ATA DA QUADRAGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 19.05.1987.
Aos dezenove
dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na
Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre,
em sua Quadragésima Segunda Sessão Ordinária da Quinta Sessão Legislativa
Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a
existência de "quorum", o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos
e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Quadragésima
Primeira Sessão Ordinária, que foi aprovada. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios
nºs 268; 269; 270/87, do Sr. Prefeito Municipal; Ofício Circular nº 01/87, da
Câmara Municipal de Veranópolis, RS. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Flávio Coulon
lamentou os contínuos pedidos de verificação de "quorum" observados
nesta Casa, os quais têm encerrado as Sessões, muitas vezes impedindo o
pronunciamento dos Senhores Vereadores. Solidarizou-se com os jornalistas
demitidos da Rádio Pampa, entre eles Valter Galvani, Jabel Pereira e outros
integrantes do Programa “Ouvido”, destacando o trabalho eficiente e democrático
sempre efetuado por eles. Falou sobre a construção da Ferrovia Norte-Sul,
analisando a inviabilidade da mesma e sua rejeição por todo o povo brasileiro.
O Ver. Lauro Hagemann discorreu acerca da morte do operário Júlio César de Melo
Pinto, comentando pronunciamento feito ontem, a respeito, pela Ver.ª Jussara
Cony e atentando para a necessidade de que esta Casa se una àqueles que buscam
o completo esclarecimento do ocorrido. Destacou o crescente nível de violência,
em suas mais diversas formas, observado no País. A seguir, constatada a
existência de "quorum", foi aprovado Requerimento do Ver. Caio
Lustosa, solicitando Licença para Tratamento de Interesses Particulares, no dia
de hoje. Em continuidade, o Sr. Presidente declarou empossado na Vereança o
Suplente Marcinho Medeiros e, informando que S.Exa. já prestara compromisso
legal nesta Casa, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a
integrar a Comissão de Justiça e Redação. Ainda em COMUNICAÇÕES, o Ver. Kenny
Braga teceu comentários acerca da morte do operário Júlio César de Melo Pinto,
salientando a importância de uma apuração rigorosa dos fatos, tanto da área
cívil quanto militar. Discorreu sobre o trabalho que vem sendo realizado pela
Brigada Militar em nosso Estado. Comentou a greve atualmente empreendida pelo
funcionalismo municipal, analisando o assunto. A Ver.ª Jussara Cony falou sobre
o pronunciamento feito ontem pelo Presidente José Sarney, criticando a
imposição da duração de cinco anos para seu mandato. Comentou o pedido de apoio
que fez S.Exa. aos Partidos Políticos, fazendo uma análise do atual quadro
político, econômico e social apresentado pelo Brasil. Defendeu as eleições
diretas para a Presidência da República. O Ver. Jorge Goularte, lembrando estar
há quase dois anos em filiação a qualquer Partido Político, registrou que na
próxima segunda-feira assumirá uma agremiação partidária. Agradeceu a seus
Pares pelo respeito e pelo apoio prestado nesse período, dizendo dos diversos
pontos que defenderá em seu futuro Partido. E o Ver. Cleom Guatimozim
referiu-se às demissões em massa que vêm ocorrendo no Estado em face da greve
do funcionalismo, em especial na Secretaria de Agricultura, protestando contra
tal medida que caracterizou como arbitrária. Fez críticas à política
administrativa do Governo do Estado e solidarizou-se com os funcionários
demitidos. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Marcinho Medeiros referiu-se à crise
que se evidencia nos funcionalismos estadual e municipal. Lembrou que as
críticas feitas devem-se estender também ao âmbito municipal, onde se evidencia
situação crítica, e salientou que a proposta encaminhada pelo Sr. Prefeito
Municipal não corresponde a um reajuste salarial e sim à reposição do gatilho
já deflagrado nacionalmente. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente
declarou encerrados os trabalhos às quinze horas e vinte e cinco minutos, convidando
os Senhores Vereadores para a Sessão Solene de hoje, às dezesseis horas,
destinada à outorga do título de Cidadã Emérita à Professora Tony Seitz
Petzhold. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Teresinha Irigaray,
Gladis Mantelli, e Frederico Barbosa e secretariados pelos Vereadores Gladis
Mantelli e Clóvis Brum, o último como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Gladis
Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida
e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha
Irigaray):
Passamos ao período de
O primeiro orador inscrito no período de Comunicações é o Ver. Luiz
Braz, que cede seu tempo ao Ver. Flávio Coulon.
O SR. FLÁVIO COULON: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, em primeiro lugar, eu gostaria de colocar o meu desencanto antes os
sucessivos pedidos de verificação de quórum que têm acontecido nesta Casa.
Desde que eu assumi, há quase um mês, tenho sido um dos primeiros a
chegar aqui para me inscrever no livro de Explicações Pessoais e, até hoje, não
consegui falar, porque não houve tempo de Explicações Pessoais. O que eu estou
vendo são pedidos de verificação de quórum sem nenhum fundamento político,
simplesmente para encerrar a Sessão. Eu venho aqui para trabalhar e sempre
tenho coisas para dizer todos os dias, porque a Cidade tem muitos problemas e
muitos assuntos para se falar.
O Sr. Artur Zanella: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) V.Exa. está preocupado com o pedido de verificação de
quórum e eu com a falta de quórum, que é o que me preocupa mais.
O SR. FLÁVIO COULON: Exatamente, mas eu já
superei esta falta de quórum porque eu cheguei à conclusão de que nós não
podemos segurar os Vereadores aqui. Não se consegue mais falar em Explicações Pessoais,
porque a Sessão é esvaziada.
Mas não era este o tema das minhas colocações hoje. Em primeiro lugar,
gostaria de colocar a minha solidariedade aos jornalistas da Rádio Pampa.
Independente de entrar no mérito empresarial da Rádio Pampa, independente de
entrar no mérito das pessoas que substituíram esses jornalistas, é inegável que
ficou um vácuo muito profundo. É um vácuo lamentável, porque é um vácuo na
democracia. Aqueles jornalistas com aqueles programas, e entre os jornalistas
eu cito Walter Galvani, Jô Alberto Pereira, Solismar Gonçalves, prestavam
serviço à democracia. Mais do que um simples programa que desaparece,
desaparece uma hora democrática. Havia várias colocações desses jornalistas com
as quais não concordávamos, mas existia sempre, durante todo o dia, a certeza
de que o povo de Porto Alegre tinha uma tribuna imparcial, onde eram colocadas
todas as questões desta Cidade.
A Sra. Teresinha Irigaray: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) V.Exa. está abordando um assunto que nos chama a
atenção, o qual endosso plenamente, e acho que a nossa bancada também. Os nomes
dos jornalistas Walter Galvani, Jô Alberto Pereira e os outros que integravam o
programa “Ouvido da Pampa” merecem a melhor qualificação e atenção da nossa
parte. Não sabemos quais os motivos que levaram à demissão desses jornalistas,
mas, realmente, V.Exa. tem razão em dizer que vai haver uma lacuna difícil de
ser preenchida, porque era um programa muito ouvido, muito bem conduzido e que
abordava temas nossos, regionais, e também de nível nacional, da maior
importância e dentro de uma prioridade, na qual esses jornalistas se
destacavam. V.Exa. tem o meu endosso e a minha atenção. Estou solidária com o
seu discurso sobre o afastamento desses jornalistas.
O SR. FLÁVIO COULON: Sou grato. Novamente
repetindo, não entro no mérito empresarial, não entro no mérito das pessoas que
substituíram esses jornalistas, mas é inegável a perda para quem, durante o
dia, se valia desse serviço de utilidade pública em defesa da democracia. É
inegável que ficou um vácuo muito grande e que, até este momento, não foi
preenchido. De modo que venho a esta tribuna para levar a esses jornalistas
demitidos a solidariedade minha, pessoal, e a do PMDB também, tenho certeza.
O segundo assunto que gostaria de referir aqui é novamente a respeito
da Ferrovia Norte-Sul. É incrível como uma obra repudiada pelo povo brasileiro
inteiro quer ser confirmada pelo Sr. Presidente da República. Aliás, a
dissociação do Presidente da República do povo é algo espantoso. Ontem, tivemos
oportunidade de verificar, através da televisão, o gesto magnânimo, entre
aspas, do Presidente, que abre mão de um ano de mandato, quando todas as
entrevistas de hoje, em rádio e televisão, mostram que os populares
entrevistados são unânimes em desejar, no máximo, quatro anos ao Sr. José
Sarney. Voltando a ferrovia, diga-se de passagem que as empresas envolvidas não
têm nada a ser provado contra elas, porque não existe absolutamente nada de
irregular na sua atuação. Qualquer pessoa que conhece a sistemática de
licitação de obra com preço fixo, como é o caso destas, sabe que as empresas
dividem os lotes de acordo com a sua preferência. Dizer que estas empresas não
serão novamente convocadas é uma grande mentira. Não existe, no Brasil, um
plantel de empresas capazes de construir aquela ferrovia que não sejam estas
que se candidataram. O que há e o que se discute é a vontade de um Presidente
de realizar uma ferrovia que não tem absolutamente nenhum dado técnico de
viabilidade no projeto, como ontem nem o Ministro dos Transportes conseguiu
provar lá, no Senado. E chamo a atenção dos meus colegas: façamos um
levantamento dos proprietários das terras pelas quais irá passar esta ferrovia
e teremos, no meu modo de entender, dados bastante interessantes. É incrível
como um Presidente da República volta as costas ao povo numa hora de grave
crise econômico-financeira do País e tenta jogar dois bilhões e meio de
dólares, a custos iniciais, numa obra que não tem viabilidade estudada, não tem
projeto, não tem discussão da sociedade, respaldo popular, técnico, nem de
ninguém, a não ser vontade imperial, monárquica do Sr. José Sarney. Era de se
propor até, e eu me arrisco a propor, um exame de sanidade mental no Sr. José
Sarney, porque não é possível se voltar as costas à vontade de um povo inteiro,
desde o simples e humilde trabalhador até o técnico em engenharia, que sabe que
esta obra não tem a mínima viabilidade, o mínimo respaldo, a mínima
sustentação. E se lançam os nomes de empresas nesta aventura como se elas
fossem culpadas. Não são culpadas. E, ao ser feita uma nova concorrência,
tenham certeza, essas empresas novamente serão vencedoras, caso realmente se
prossiga no desejo de levar essa aventura escabrosa adiante. Muito obrigado,
Sra. Presidente.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito é
o Ver. Lauro Hagemann. V.Exa. tem o tempo regimental.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores. Eu ontem presenciei um fato contristador, que foi o velório e o enterro
do cidadão Júlio César de Melo Pinto, ao que tudo indica, assassinado quando
era transportado preso do local da ocorrência para o Hospital de Pronto
Socorro, lamentavelmente, pela Brigada Militar do Estado. O assunto já foi
referido ontem desta tribuna pela Vera. Jussara Cony e, se não me engano, pelo
nobre Presidente desta Casa, Ver. Brochado da Rocha. Quero dizer, Srs.
Vereadores, que a violência que estamos a vergastar diariamente desta tribuna
se abate principalmente contra a classe operária neste País. Não foi o episódio
a que assistimos fruto do arbítrio dos longos anos de ditadura. Essa violência
remonta anteriormente no tempo, porque sempre a violência se abate contra os
mais fracos. Não é por acaso que o jovem - volto a dizer, parece que foi assassinado
- era um cidadão pertencente à classe operária; não era um desocupado; não era
um João-Ninguém; era um cidadão prestante da nossa sociedade. Por isso, Srs.
Vereadores, esta Casa tem a obrigação de solicitar, com a máxima energia, que
se apurem os responsáveis por esse trucidamento. As fotografias, publicadas
desde sexta-feira na imprensa local, demonstram, com muita clareza, que o
cidadão Júlio César de Melo Pinto foi preso sem ferimentos graves e chegou
morto ao Pronto Socorro. O que teria havido no trajeto do Carrefour até o
Pronto Socorro? Que teria visto esse cidadão naquele episódio do tiroteio do
Carrefour para que ele tivesse que pagar com a vida “o crime” de ter
presenciado algum acontecimento não muito digno? O Comando-Geral da Brigada Militar,
a Secretaria da Segurança Pública, o Governo do Estado têm a obrigação imediata
de virem a público esclarecer o acontecido. Não é possível que a sociedade se
veja à mercê desse tipo de segurança, e também não posso acreditar que quem
quer que tenha cometido essa ignomínia o fizesse por contra própria. Alguém
deve ter induzido a tal procedimento. E é por essa razão, Srs. Vereadores, que
nós pedimos aos responsáveis pela segurança que promovam o mais depressa
possível a elucidação deste crime. É possível até que se possa pedir a imediata
prisão daqueles que participaram do acontecido para que não fiquem impunes ou
até para que possam dizer quem foi que os induziu a tal ato e por que razão o
cometeram. Quero deixar bem claro que não é uma atitude de hostilidade à
Brigada Militar. Essa corporação centenária merece de nós o máximo respeito. Os
acontecimentos como os de quinta-feira passada nos levam a, gradativamente,
perdermos o respeito e a credibilidade por esta instituição que tem nos servido
e nos ajudado em momentos cruciais da vida nacional. Em nome dessa
credibilidade, desse respeito é que se exige uma ação imediata. O cidadão comum
não pode ficar à mercê de mentes distorcidas, em que o cidadão, por ser
operário e, principalmente, talvez por ser negro, seja um criminoso nato. É
isso que precisa ser refletido por esta Casa, por todos aqueles que querem ver
a nossa sociedade mais liberta, mais arejada e até mais segura, porque a
violência não acontece só nessas ocasiões. A violência se abate diariamente sob
múltiplas formas: é o salário, é a má habitação, é a má alimentação, é a escola
deficiente, é o transporte deficiente, é a falta de trabalho, é a infância
abandonada, é a velhice largada nas sarjetas. Tudo isso é violência e, quando
ela culmina com a eliminação física do cidadão, nós chegamos a um estado muito
perigoso.
O velório e o enterro de Júlio César de Melo Pinto foi um espetáculo
contristador e acabrunhador para quem dele participou, porque não havia
conformismo por parte de seus familiares, por parte de seus amigos com o que
lhe sucedera. É inexplicável. E as autoridades da Segurança Pública do Governo
do Estado têm a responsabilidade de dizer com muita clareza o que foi que
aconteceu e o que pretendem fazer para coibir doravante que tais fatos voltem a
suceder.
O Sr. Clóvis Brum: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Nobre Vereador, eu ouço V.Exa. com muita atenção. É
um assunto da maior gravidade, da maior importância, talvez o assunto mais
importante que tenha ocorrido nos últimos dias nesta Cidade. Todavia, acredito
que o Sr. Comandante-Geral da Brigada Militar e o Sr. Secretário da Segurança
Pública haverão de esclarecer, não só esclarecer, mas punir, rigorosamente, os
culpados, apurando a verdade e os fatos. E a população, não tenha dúvida, Ver.
Lauro Hagemann, será devidamente informada, detalhes por detalhes, deste
episódio. Pode ter a certeza V.Exa. Ontem à tarde já contatamos com o
Secretário neste sentido e temos certeza de que Porto Alegre e o Estado serão
informados deste episódio, nos seus detalhes, e apuradas todas as
responsabilidades.
O SR. LAURO HAGEMANN: Agradeço a V.Exa. pelo
aparte. É justamente o que estamos a reclamar das autoridades e esperamos que
elas cumpram com o seu papel.
O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Somente para ratificar o que o Líder da minha bancada
já colocou. Sou solidário, em tese, com o pronunciamento de V.Exa. e me
comprometo com V.Exa., em nome do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, de
que os fatos serão apurados até suas últimas conseqüências. Já sei que a
Brigada Militar instaurou um inquérito policial militar para apurar. Posso-lhe
garantir que será um inquérito que terá a transparência que o Governador Pedro
Simon prometeu a todos os rio-grandenses.
O SR. LAURO HAGEMANN: Acredito em suas palavras,
e que assim seja.
O Sr. Adão Eliseu: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Sempre que o nome da Brigada Militar é citado nesta
Casa, tenho também me envolvido, participando de uma forma ou de outra. Hoje,
porém, fui ao Comandante-Geral da Brigada Militar, já que vejo em seu discurso
um conteúdo de verdade na busca de justiça em torno do fato ocorrido. Então,
cumpre-me dizer, para tranqüilizá-lo um pouco, porque sei que V.Exa. não ficará
totalmente tranqüilo diante do fato, que fui saber quais as providências que
seriam tomadas - urgentes - para dar uma satisfação à população, uma vez que
não se pode mais trazer a vida do infeliz operário. O Sr. Comandante
informou-me que as providências a serem tomadas serão aquelas que sempre foram
tomadas - não as do Governador. Sempre foram tomadas providências no momento em
que os PMs se arrogam no direito de julgar e condenar. Portanto, estão sendo
agilizadas as etapas do inquérito, já em andamento.
O Sr. Clóvis Brum: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Não querendo tomar seu tempo, acrescento, fazendo
justiça não só às preocupações do Governo do Estado, através da SSP, como
também do Comando-Geral da Brigada Militar, o papel importante da Imprensa,
sempre vigilante nos fatos que ocorrem na Cidade e no Estado. A contribuição da
Imprensa é relevante e esperamos continuar sempre contando com a preocupação
desse importante setor.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sou grato aos apartes,
especialmente o do nobre Ver. Adão Eliseu, a quem presto meu testemunho de uma
ação constante quando se trata de assuntos relacionados com a Brigada Militar,
que tem tentado resolvê-los a contento.
Para encerrar, Sra. Presidente, devo apenas repetir que me preocupa que
figuras menos importantes deste processo sejam acusadas, julgadas e condenadas.
É preciso ir mais a fundo nesta questão de violência. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito
em Comunicações é o Ver. Kenny Braga, que está com a palavra.
O SR. KENNY BRAGA: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores. Ficaria numa situação indesculpável perante a minha própria
consciência se não empregasse a minha voz para condenar, para verberar o ato
brutal do qual resultou morto o operário Júlio César de Melo Pinto, com 30 anos
de idade. Evidentemente que nenhuma morte se justifica, mas esta morte, este
assassinato - ao que tudo indica, é um assassinato - tem um ingrediente mais
brutal ainda, porque, segundo todos os depoimentos de pessoas ligadas à vítima,
tratava-se de homem trabalhador, sem antecedentes criminais e que sequer tinha
o costume de portar faca ou arma de fogo. Era, portanto, um cidadão cumpridor
de seus deveres, um brasileiro pobre que devia merecer respeito em sua dignidade
de ser humano. Infelizmente, perde a sua vida numa tragédia das mais brutais
acontecidas em Porto Alegre nos últimos anos. Eu tenho certeza de que as
autoridades da área civil e da área militar serão rigorosas na apuração dos
fatos, doa a quem doer, e espero que o desenvolvimento desse processo seja
aberto ao conhecimento da população, que não fique encoberto por interesses de
corporações e de castas, mas que toda a população de Porto Alegre conheça o
desenvolvimento desse processo, o seu desdobrar, para que faça o julgamento,
até, do comportamento e da atitude de quem está julgando. Sei que nos últimos
dias, Ver. Adão Eliseu, a Brigada Militar tem sido solicitada para várias
frentes de atividades de trabalho em Porto Alegre em decorrência das greves que
assolam a Cidade e o próprio Rio Grande do Sul. Os brigadianos são vistos em
várias atividades, consertando sinaleiras avariadas, impedindo a invasão de
conjuntos habitacionais, enfim, em diversas frentes, e isso certamente causa um
desgaste físico e psicológico à tropa em serviço da Brigada Militar. Mas nada
disto justifica que se assassine um operário simplesmente suspeito de ter
participado e cometido um assalto. Ontem, aqui, à tarde, fiquei ouvindo muito
atentamente o relato feito pela Vera. Jussara Cony, do qual tomava conhecimento
pela primeira vez, e confesso ter ficado estarrecido diante da gravidade, da
extensão de fatos que nós julgávamos inteiramente desaparecidos da nossa
crônica de costumes aqui em Porto Alegre. E hoje, ao ouvir o discurso equilibrado
e ponderado do Ver. Lauro Hagemann, que nada mais quer do que se faça justiça,
eu renovei o meu estarrecimento e o meu espanto diante de um fato tão brutal
como esse. Acho que nenhum político, nenhum ser civilizado desta Cidade pode
ficar indiferente à dor grandiosa desta família e à grita justa, colérica, dos
movimentos em defesa do negro, que já estiveram com o Secretário de Segurança,
pedindo justiça. Então, o que eu faço, na parte inicial do meu discurso, é
simplesmente juntar a minha voz indignada e comovida à dos outros Vereadores
que me precederam na análise deste terrível acontecimento.
A Sra. Jussara Cony: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Nós não temos nenhuma dúvida de que esta Casa
assumiria, também, o desejo de justiça a mais este fato da violência que se
cometeu contra um cidadão do nosso País. Ao se olhar as fotos que foram
publicadas na coluna ZH Policial é
que se confirma, realmente, a brutal violência que Júlio César, companheiro
militante do movimento negro, sofreu. As fotos de Zero Hora são realmente elucidativas. E não há dúvida que esta
Câmara estará junto ao Movimento de Justiça e Direitos Humanos e a todos os
movimentos negros do Rio Grande do Sul para exigir a apuração dos fatos e a
punição dos culpados.
O Sr. Adão Eliseu: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Kenny Braga, também estou ouvindo o discurso de
V.Exa., assim como fiz no discurso do Ver. Lauro Hagemann. Realmente, V.Exa.
têm razão. E a razão aumenta o volume de assertivas na medida em que traz para
esta Casa, que é o tambor de ressonância dos acontecimentos não só da nossa
Capital, mas de todo o País, um fato tão triste como este. Eu pediria aos
Vereadores uma reflexão mais profunda do porquê de estar acontecendo tudo isto.
O que está levando a sociedade a se tornar violenta e o que está por traz de
tudo isto? Quais as razões que estão levando a polícia a se transformar numa
polícia violenta - não só em Porto Alegre, mas em todo o País - mormente no
caso especial de Porto Alegre, em que a Brigada Militar estava vivendo bons
momentos? A população a estava aplaudindo, e até aqui, nesta Câmara, ouvi
vários discursos que faziam referências elogiosas ao comportamento da Brigada
Militar nos vários eventos que estavam acontecendo em nosso Estado e em nossa
Capital. É uma pena que aconteça um fato como este, que vem trazer um manto
negro, uma cor escura aos acontecimentos claros e cristalinos que ocorriam e
que, realmente, eram recomendáveis em torno do bom comportamento e do esquema
de trabalho que estava praticando a Brigada Militar, e que vai continuar. Quero
alertar a V. Exas. que este é um fato isolado na Brigada Militar, porque as
medidas repressivas que seriam tomadas já o estão sendo. É uma pena. Mas vamos
reflexionar um pouco mais para ver o porquê. Me parece que isto é um prelúdio
de acontecimentos muito mais graves que irão acontecer no nosso País. Muito
obrigado.
O SR. KENNY BRAGA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, temos a nossa frente o desenvolvimento de uma greve do funcionalismo
público municipal, e tenho, na medida do possível, acompanhado tudo que diz
respeito à greve do funcionalismo público. Acho que algumas atitudes não somam,
realmente, para que se chegue a uma solução do impasse. Tive o conhecimento de
que ontem, na assembléia do funcionalismo público municipal, que decidiu pela
continuidade da greve, o Prefeito eleito da Cidade foi alto de uma série de
agressões verbais, orquestradas entusiasmadamente até por Vereadores desta
Casa. Eu entendo que o papel de mediação dos Vereadores é muito importante, mas
a mediação civilizada, que leve à superação do impasse e ao entendimento das
lideranças do funcionalismo com a Prefeitura Municipal. Mas, na medida em que
se agride verbalmente o Prefeito, em que se tenta desmoralizá-lo através de
discursos mal feitos, mal colocados, não se está absolutamente trabalhando em
favor da greve, mas se está trabalhando para complicá-la ainda mais. Então, eu
quero lamentar, no final do meu discurso, este tipo de atitude que não colabora
na superação do impasse grevista em que vive o funcionalismo público municipal.
Eu gostaria de que houvesse uma mediação serena, calma, tranqüila e, sobretudo,
consciente das dificuldades imensas que tem o erário público municipal para
atender às exigências do funcionalismo. Não se pode, de forma alguma, fazer
discursos irresponsáveis e demagogos contra o Prefeito, porque eles não levam a
parte alguma. Então, a minha frase final é um pedido a quem se acha no direito
de mediar a greve: que o faça com seriedade e que não toque mais lenha na
fogueira, porque, certamente, desta fogueira muita gente sairá chamuscada.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli):
Com a palavra, a Vera. Jussara Cony.
A SRA. JUSSARA CONY: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, ontem o Brasil assistiu estarrecido ao pronunciamento do Presidente
Sarney. Em primeiro lugar, o Presidente anula uma posição anterior. No momento
em que enviou ao Congresso Nacional uma emenda pelas eleições diretas, o
Presidente se posicionou por quatro anos de mandato. Mais do que isto, anula o
poder que, no momento, tem a soberania para definir o mandato presidencial.
Anula o poder da Assembléia Nacional Constituinte eleita neste País, inclusive
de forma autoritária, dizendo que não se discute mais o assunto. Por outro
lado, solicita apoio aos partidos políticos. Apoio com base no quê? Quais as
propostas que o Presidente trouxe para a resolução da crise? Trouxe, por acaso,
proposta de uma reforma agrária, de suspensão do pagamento da dívida externa? E
esse dinheiro da dívida, que vai para fora das fronteiras do nosso País, dívida
a qual não contraímos, aplicada à resolução dos graves problemas sociais?
Colocou, por exemplo, a postura do fim do arrocho salarial que penaliza os trabalhadores
do nosso País? Inclusive, o Presidente propõe tipo de um novo pacto entre
patrões e empregados. Que pacto? Um pacto onde o sacrifício continua recaindo
sobre os trabalhadores. Quais as medidas tomadas concretamente pelo Governo
contra os especuladores, as multinacionais, os latifundiários, o capitalismo
nacional e internacional que, por pressões, colocaram por terra o congelamento
de preços? E afirma autoritariamente que as justas reivindicações dos
trabalhadores manifestadas através das greves - forma de luta que os
trabalhadores têm contra a intransigência dos patrões e do próprio Governo -
prejudicam o avanço das mudanças. Que mudanças?
Propõe o Presidente o Presidencialismo, sistema que prevalece em nosso
País desde 1891 e cuja experiência histórica tem demonstrado que serve aos
poderosos, que reforça o poder pessoal, possibilitando o aparecimento de
repetidas crises em nosso País que permitiram, inclusive, a instalação de
governos despóticos, vide o regime militar. As Constituições que tivemos até o
momento afirmam como poderes da República o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário, harmônicos e independentes entre si. Sob o Presidencialismo, o
Executivo se transformou, de fato, num único poder, centralizador, e, mais,
vide o pronunciamento do Presidente Sarney, que anula o poder soberano hoje no
País - a Assembléia Nacional Constituinte - na definição do mandato. O
Legislativo tem sido, e esta Casa é testemunha disto, um ramo menor, não
estando integrado no comando da Nação. Não se considera responsável, inclusive,
pela direção política e administrativa do País. Nesse sentido, é necessário
estabelecer um outro sistema de governo que estabeleça a co-responsabilidade
entre o Executivo e o Legislativo.
Mas Senhores, a crise política prossegue em nosso País. Ao contrário do
que afirmava Sarney, vai-se tornando clara, como que um consenso nacional, a
necessidade da substituição do Presidente Sarney num prazo não muito distante,
e não daqui a cinco anos. O Governo, cada vez mais isolado, carece de credibilidade.
Perdeu a confiança do povo. A Nação enfrenta enormes dificuldades, agravadas,
inclusive, nestas últimas semanas, com a brutal elevação de preços de todos os
produtos de consumo popular, dos aluguéis, dos transportes coletivos. A
política econômico-financeira do atual Ministro da Fazenda conduz à recessão,
ao desemprego, ao arrocho salarial os funcionários públicos aqui, em nível
municipal, e em todo o nosso País em nível estadual. Sob o pretexto de combate
à inflação, orienta-se no sentido do retorno do País ao Fundo Monetário
Internacional e da submissão às exigências do capital estrangeiro.
Portanto, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, a substituição do
Presidente Sarney, motivo central da crise política - não poderia deixar de ser
-, mobiliza intensamente as diversas correntes de opinião, desde os setores
econômicos e sociais às forças reacionárias e o próprio capital estrangeiro.
Procuram-se fórmulas de tornar exeqüível a mudança do Governo. Os banqueiros
internacionais e as forças retrógradas jogam abertamente no golpe militar ou
palaciano para impor ao País um governo à margem da lei e a seu serviço. Vários
partidos e personalidades políticas indicam datas para a eleição do Presidente,
variando de alguns meses após a promulgação da Assembléia Nacional Constituinte
até o final de 1988. O Ministro do Exército ameaça com o emprego da força no
sentido de neutralizar o movimento em favor da solução sucessória num prazo
relativamente curto. Intervém, assim, intempestivamente, na vida política
nacional. Culminou, ontem, com o pronunciamento do Presidente da República.
Assim, antes de mais nada, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, há de se repudiar
qualquer tipo de golpe, venha de onde vier. E o nosso partido, o Partido
Comunista do Brasil, julga chegar o momento, em face da crise econômica e
política em agravamento, em face das vacilações e inconseqüências do Governo
Sarney para superar esta crise, de ser fixada, assim, a data do término do
mandato do atual ocupante do Palácio do Planalto. E o que o Presidente Sarney
não disse ontem na televisão é que assumiu a Presidência em situação muito
particular, para restabelecer o regime democrático que se fazia necessário após
o regime militar. Essa tarefa termina formalmente com a promulgação da nova
Constituição do Brasil. Cabe, portanto, aos constituintes fixarem, nas
Disposições Transitórias na nova Carta Magna, o momento das eleições
presidenciais. Nosso partido é de opinião de que essas eleições devem ocorrer
num período de quatro ao máximo de seis meses após ser promulgada a nova Carta
Magna. Os eleitores deste País têm o direito e devem ser convocados a escolher,
num pleito direto e secreto, o Presidente da República para dirigir o País sob
a égide da nova Constituição. Acreditamos ser esse o meio normal e democrático
da substituição necessária do atual governo. Mas dada à instabilidade política
e o aprofundamento da crise econômico-financeira, podem, sim, advir
acontecimentos que precipitem a saída do Governo. Nesse caso, somos de opinião
de que o poder deve passar imediatamente à Assembléia Nacional Constituinte,
que é, hoje, o poder soberano do País. E lembramos que ontem, mais uma vez,
lembramos o desconhecimento pelo Presidente da República da soberania da
Assembléia Nacional Constituinte ao propor, inclusive de forma autoritária,
repetimos, que não se discuta mais isso. Nenhuma solução golpista, Sra.
Presidente, Srs. Vereadores, tentando se apossar do Governo, pode ser admitida.
A Nação precisa estar alerta para exigir, por todas as formas, respeito às regras
democráticas, contra a volta dos militares e das forças da reação, mesmo por
breve período, à direção governamental. Sem se desviar do processo em curso da
Assembléia Nacional Constituinte, o centro da vida política nacional no qual se
trava dura luta contra as correntes reacionárias, nosso partido, Partido
Comunista do Brasil, considera indispensável promover-se, desde já, amplo
entendimento das forças democráticas e progressistas, visando a estabelecer uma
plataforma de luta comum e criar uma alternativa de poder que permita aglutinar
os trabalhadores e o povo para vencer o atraso à reação, para libertar nossa
Pátria da espoliação do capital estrangeiro.
E ao finalizar, Sra. Presidente, é o momento de os trabalhadores e de o
povo prosseguirem na luta contra a política do Governo Sarney, contra as
violências policiais, em defesa dos seus interesses e pelas liberdades
democráticas. É o momento de continuarmos a nos opor decididamente ao
militarismo que tantos males tem causado à Nação brasileira. É o momento de
cerrar fileiras por uma Constituinte democrática e progressista. As proposições
reacionárias dos constituintes conservadores precisam ser derrotadas pelo
movimento de massas e pelos parlamentares comprometidos com a causa do povo. É
o momento de referendar a soberania da Assembléia Nacional Constituinte para
definir, nas Disposições Transitórias, o mandato do atual ocupante do Palácio
do Planalto que, no entender do nosso partido, deve-se dar de quatro a seis
meses após a promulgação da nova Constituição da Nação brasileira. Muito
obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Jorge
Goularte.
O SR. JORGE GOULARTE: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores. Após quase dois anos nesta Casa, sem sigla partidária, chamado independente
por alguns e, certamente, sem partido por outros, porque independente eu sempre
fui - em qualquer sigla em que estive ou vier a estar estarei sempre tomando
posições que expressam exatamente o que penso -, penso que chegou o momento de
tomar um rumo político-partidário. Então, na próxima segunda-feira, no início
da Sessão desta Casa, vou-me definir por um partido político. Durante esse
período em que estive analisando o quadro político nacional, ouvi todas as
tendências partidárias, de direita, de esquerda, de centro, de meia-direita,
meia-esquerda, de rosa-choque, vermelhos alguns, minuano também, pessoas que me
deram o prazer de me convidar para um debate, como fui por elementos de
esquerda, centro. Queria dizer ao Ver. Isaac Ainhorn, que me incita a fazê-lo,
que fui convidado praticamente por todas as siglas partidárias e que isso me dá
uma satisfação muito grande porque é o reconhecimento de um trabalho que nesta
Casa já dura doze anos.
O Sr. Kenny Braga: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Evidentemente, Vereador, que não. Eu não tenho bola
de cristal e, se a tivesse, certamente estaria muito melhor na minha vida. Mas
suponho, Vereador, que V.Exa. não resistiu ao charme e ao encanto do Dep.
Federal Álvaro Valle e está se engajando na sigla do PL para ser um novo líder
neste Plenário. Se a opção for esta, Vereador, eu saúdo esta opção porque é,
realmente, uma tentativa de fazer uma nova política neste País. Pelo menos este
é o propósito exposto seguidamente em debates na televisão e no rádio pelo Dep.
Federal Álvaro Valle. Eu tenho quase certeza, Vereador, que não me
equivoco em relação à opção de V.Exa.
O SR. JORGE GOULARTE: É uma das siglas que tem me
procurado seguidamente, e o Dep. Álvaro Valle é meu amigo pessoal há muitos anos
e não está fora de cogitação esta tomada de posição.
Eu queria, nesta tarde, mais especificamente, agradecer à Mesa desta
Casa e ao Plenário pela convivência que tive durante este período sem partido.
Os meus nobres pares foram elegantes com este Vereador. Eu tive que lutar por
alguns espaços, entendendo muitas vezes ser difícil laborar sem sigla
partidária, mas durante este período os Vereadores desta Casa, de todos os
partidos, foram - como disse anteriormente - muito elegantes. É claro que eu
tenho, entre os Vereadores, a maior amizade, que vai continuar, porque eu
sempre disse e repito, nesta tarde, que nesta tribuna eu faço como um jogador
de futebol: durante a partida eu chuto a canela, dou cotovelaço se o juiz não
vê, mas, depois que acaba a Sessão, eu mesmo passo Gelol e eu mesmo ajudo a
recuperar aquele Vereador que porventura eu tenha ferido com uma posição um
pouco mais forte. Como no futebol, eu me sinto como um jogador que defende a
sua camiseta, mas que respeita os seus adversários.
O Sr. Raul Casa: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Nobre Ver. Jorge Goularte, sabe V. Exa. o apreço que
a nossa bancada tem por V.Exa., pelo seu trabalho, e temos tido o conforto de
contar sempre com o seu apoio, a sua solidariedade, o seu engajamento em todas
as manifestações do Partido da Frente Liberal. Seja qual for a sigla que V.
Exa. venha a assumir, tenho certeza que continuará trilhando este mesmo
caminho, que é o da solidariedade, da aproximação e da fraternidade com aqueles
com quem V. Exa. sempre se identificou há muitos anos nesta Casa. Tenho certeza
que V. Exa. continuará irmanado conosco.
O SR. JORGE GOULARTE: É claro, Ver. Raul Casa,
que as minhas posições vão permanecer idênticas e que eu vou continuar
defendendo aquilo em que acredito, como a propriedade privada, que hoje é tão
vilipendiada, é tão enxovalhada. Já se cria, em nosso Estado, a Associação de
Defesa dos Invasores. Eu pretendo criar a Associação de Defesa da Propriedade
Privada, particular, para defender o municipalismo, para defender a liberdade
de expressão, o voto livre e soberano em todos os níveis, as eleições diretas
em todos os níveis, o Parlamentarismo. Enfim, é para continuar a defender as
minhas idéias que eu vou ingressar numa sigla partidária. Reforma agrária - por
que não? As minorias, os índios no seu “habitat”, e que não sejam corrompidos
por brancos demagogos. É muito fácil a pessoa trabalhar por um ideal quando tem
posições firmes. Por isso, Ver. Raul Casa, V.Exa., que me conhece há muitos
anos, sabe que só dobro a espinha para fazer ginástica.
Então, com tranqüilidade, na próxima segunda-feira - e convido meus
amigos que acharem válida minha opção que me sigam -, adotarei uma sigla. Na
minha nova sigla não haverá mordomias. É uma das mais modestas, e a luta será
difícil. Estou optando pela luta difícil e dura em detrimento da porta larga
das mordomias. Poderá haver mais pessoas junto a mim. Isso é possível. O que
mais deixo claro são meus agradecimento à Mesa, aos colegas Vereadores, às
Lideranças por terem me aturado por quase dois anos sem partido. Não foi fácil.
O Ver. Kenny Braga ficou irritado muitas vezes, ou algumas vezes. O Ver. Paulo
Sant'Ana não queria aquela situação, pois desejava que ficasse ao seu lado.
Mas, de qualquer maneira, foram tempos difíceis que passei com a participação e
compreensão dos Vereadores desta Casa. E, na próxima segunda-feira, essa
situação cessará e ingressarei numa nova sigla partidária que, tenho certeza,
pode não ser a melhor ou ser a pior, mas será diferente. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito é
o Ver. Jaques Machado, que cede seu tempo ao Ver. Cleom Guatimozim, pelo tempo
regimental.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Sra. Presidenta, Srs.
Vereadores. Na Prefeitura Municipal, no Salão Nobre, os Secretários lá
presentes me pediram que recebesse uma comissão de funcionários da Secretaria
da Agricultura, já que eles, Secretários do Governo Municipal, não pretendiam
envolver-se no problema que os funcionários levavam ao Paço Municipal e que se
refere às demissões em massa que estão se verificando no Governo do Estado.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Nobre Vereador, nesse sentido, o PFL, na tarde de
ontem, solidarizou-se com esses funcionários da Secretaria da Agricultura. Ao
mesmo tempo em que são demitidos em massa, são outros admitidos em massa no
INCRA. É exatamente nesse sentido, nobre Vereador, que muito nos preocupa esse
descompasso entre o Governo Federal e o Governo Estadual.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Agradeço o aparte de V.Exa.
que, já no início do meu discurso, vem me dar mais elementos.
Os funcionários da Secretaria da Agricultura denunciaram que, no início
de maio, a partir do dia cinco, iniciou-se um processo de demissão de mais de
mil funcionários da Secretaria. Na oportunidade, o Governador disse o seguinte:
“Se a Secretaria da Agricultura fechasse, ninguém notaria”. São palavras do
Governador. Se o Ministério fechasse, quando ele era Ministro, ninguém notaria
também. Dizem os funcionários que as demissões da Secretaria da Agricultura, ao
lado de suas modificações estruturais, projetadas pelo atual governo, são
fatores que, inquestionavelmente, trarão enormes prejuízos ao nosso setor
primário. Tal política de demissão de servidores é feita para redução das
despesas públicas com gastos de pessoal. Em tese, está correto; na prática, tem
incorreções. É o exemplo do Departamento de Produção Animal, onde as demissões
de 66 médicos veterinários e 420 guardas sanitários vão representar para o
Governo uma economia de 900 mil cruzados por mês, já que esses profissionais
recebem hoje uma médica de cinco mil cruzados líquidos por mês e os guardas
sanitários, mil e duzentos cruzados líquidos. As demissões, diz o funcionário,
apenas de uns dez marajás equilibrariam totalmente esta situação. Diz que a
política de contenção de despesas públicas, imposta pelo Governo Pedro Simon
mediante a estratégia de demissão de pessoal, ela mostra-se inoportuna,
incoerente, injusta, descriteriosa, revanchista e desprovida de planificação
prévia. Um governo que se diz participativo, transparente, democrático
enclausura-se no exercício do poder autoritário e auto-suficiente, impondo
medidas sem qualquer participação da comunidade técnica e das entidades dos funcionários
e dos próprios produtores rurais. Então, os funcionários estão com um movimento
de repúdio, dentro da greve, pela política de demissão dos servidores públicos,
adotada como uma das prioridades do atual governo. E eu perguntaria ao
Plenário: sabem qual é uma das prioridades do atual governo? É a demissão dos
funcionários públicos porque seriam os causadores da desgraça do Estado.
Recebemos do Ver. Aranha Filho um telex solicitando urgente e público
posicionamento de V.Exa. e do Partido da Frente Liberal para a gravidade do
seguinte fato: enquanto a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul demite
mais de 600 servidores, veterinários, técnicos e guardas da defesa sanitária,
responsáveis pelo resguardo da saúde pública de milhões de pessoas do nosso
Estado, o INCRA está contratando 1.250 técnicos. E assim segue o telex do PFL.
O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Em primeiro lugar, gostaria de saber, dessas 1.250
nomeações, quantas são indicadas pelo Sen. Chiarelli. Em segundo lugar,
gostaria de chamar a atenção para o fato de que esse discurso de V.Exa.,
infelizmente, nós vamos ter que ouvir durante bastante tempo. A máquina
administrativa do Rio Grande do Sul foi aviltada de tal maneira que nos deixou
um legado trágico praticamente ingovernável no Estado. E mister se faz, em nome
da moralidade pública, que esta máquina seja enxugada. É lamentável que esta
tarefa caiba ao PMDB, mas o PMDB não vai fugir do compromisso que ele tem com o
povo do Rio Grande do Sul. E lhe adianto mais: esse discurso que V.Exa. está
fazendo V.Exa. fará muitas vezes, se for reeleito no ano de 1989, quando,
porventura, o PMDB tomar a Prefeitura de Porto Alegre. Novamente nós nos
depararemos com este caos gerado por contratações puramente políticas sem que
tenham as suas devidas justificativas. Pode ficar tranqüilo V.Exa. que nós não
fugiremos às nossas responsabilidades. Existem fatos lamentáveis nestas
demissões, como em todas as demissões, mas o PMDB está acima de funcionários. O
PMDB está governando o Rio Grande do Sul e tem o compromisso com o povo do Rio
Grande do Sul e vai assumir esta responsabilidade.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Vereador, eu recolho o
aparte de V.Exa. É um aparte equilibrado e eu não desejo, na resposta,
agredi-lo face à educação do aparte de V.Exa., mas devo dizer que não pode o
Poder Público criar o caos social. E veja que V.Exa. se equivoca, porque, no
Município de Porto Alegre, os pagamentos estão sendo feitos em dia. O projeto
enviado hoje a esta Casa, concedendo 20% de aumento ao funcionalismo, que deve
ter dado entrada hoje no Protocolo, compromete 84% do Orçamento. Ainda há uma
margem, o que não há no Estado do Rio Grande do Sul, permitindo, então, ao
Prefeito pagar em dia. Mas os funcionários da Secretaria de Agricultura têm
razão ao se rebelarem, ao fazer um estado de rebeldia dentro da própria greve,
porque nós sabemos que o setor primário, na economia do nosso Estado,
representa de 45 a 50%, mais ou menos, e a agroindústria é responsável por 48%
das exportações do Estado. É uma justificativa de por que é importante essa
Secretaria, e, se a mesma fechasse, todo o mundo notaria, e não como o disse o
Governador, que ninguém vai notar.
O Sr. Flávio Coulon: O Governador jamais disse
esta frase. V.Exa. sabe muito bem disso.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Se não disse, então os
impressos feitos, atribuindo ao Governador essa frase, é que estariam errados.
Então, estou eu me baseando nos impressos que estão sendo distribuídos pelos
funcionários. O Ver. Comin sabe muito disso aí. No controle da febre aftosa
bovina, por exemplo, o Estado economiza 240 milhões de cruzados por ano. Isso,
Srs. Vereadores, somente na produção de carne, que, em 1980, foi de 430 mil
bois doentes e, em 1986, de 244 bois doentes. Sabe-se que, graças ao trabalho
da Secretaria de Agricultura, a raiva está controlada no Estado. A última morte
em humanos foi em 1983. Poderíamos continuar enumerando as atribuições da
Secretaria de Agricultura, de por que ela não pode ser ignorada assim, e
lastimar que o funcionalismo do Estado esteja tendo prioridade no Governo do
Sr. Pedro Simon no que se refere às demissões, ao achincalhamento público,
posto em choque, em exposição pública, em toda a imprensa, como sendo
responsável pelo caos deste Estado, quando sabemos que não o é. Então, o Sr.
Pedro Simon sabia, quando se candidatou a Governador, que tem que ter
capacidade! Tem que ter alta capacidade técnica e política para governar o
Estado, que está com problemas! Ele sabia disso, e os demais candidatos também.
Concluo, dizendo que nós estamos solidários com os funcionários da
Secretaria da Agricultura, onde as demissões já ultrapassaram a mil, só de
funcionários pequenos! Só de pequenos! Eu não tenho conhecimento de que algum
“marajá” tenha saído, mas, sim, os pequenos. É uma barbaridade! Funcionários
esses de salários de mais ou menos cinco mil cruzados por mês. Por isso fica
aqui a nossa reprovação, o nosso desapontamento, como o dos funcionários que
ficaram desempregados e suas respectivas famílias. É o Estado gerando o caos
social! Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Marcinho Medeiros em Comunicação de Líder.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores. Parece que estamos enfrentando, no Estado, algo novo em termos de
administração pública: os funcionários mal remunerados em estado de greve, não
só no Estado, mas também na Prefeitura. E insistem os membros da Bancada do PDT
em acusar os funcionários públicos municipais de faltarem com o respeito ao Prefeito.
Esquecem estes mesmos Vereadores que os funcionários públicos do Município
também não são tratados com o devido respeito pelo Sr. Prefeito e pelos seus
Secretários. Ameaças de demissões, de retiradas de vantagens recebem, a todo o
momento, os funcionários públicos municipais, que estão em estado de greve
contra uma administração que, até o momento, em dois anos de administração, não
justificou ao povo porto-alegrense por que está na Prefeitura. Quem olhar a
nossa Cidade e verificar o estado de abandono em que ela se encontra, quem
olhar os corredores de ônibus e verificar o estado de abandono dos mesmos, quem
olhar a situação dos funcionários públicos municipais e verificar que, em dois
anos de administração, estes funcionários perderam muito mais do que nos 20
anos da dura ditadura militar dar-me-á razão! Mesmo na época dos interventores
municipais houve avanços, houve conquistas do funcionalismo. Pois bem: estamos
em plena administração que se diz socialista, entre aspas, que de socialismo
não tem nada, pois, como todos sabem, há pouco tempo houve um processo que não
implicava aumento nenhum para a Receita pública do Município e que, quando
votado por esta Casa, a bancada governista retirou-se toda, impedindo que uma
conquista social do mais humilde servidor público deste Município acontecesse.
Portanto, acusar o Sr. Pedro Simon de incompetente, quando ele ainda não teve
tempo suficiente para provar ou tentar melhorar a máquina administrativa do
Estado, que precisa ser melhorada, pois encontramos o Estado com alguns
servidores com cinco contracheques, fazendo 200 horas por semana, coisa
humanamente impossível... Não temos nada contra a greve dos senhores
funcionários. Achamos que esses funcionários também têm o direito de pedir
melhores condições de vida, mas queremos que eles tenham suas conquistas até
ampliadas, desde que o Estado possa ser colocado em ordem neste início de
governo. Não é o que acontece na Prefeitura, que está em desordem há dois anos
de Governo Collares. O pronunciamento ideológico por parte de alguns líderes do
PDT dentro da repartição é um fato inquestionável, é uma coisa que existe. Na
última assembléia dos municipários, vimos lá vários colegas que estavam
“dedurando” os que estavam reivindicando seus direitos. Dizemos ainda que o Sr.
Prefeito de Porto Alegre não enviou nenhuma proposta de aumento salarial. Os
20% foram comidos pelo último gatilho salarial, os 37% já estavam comidos pelos
gatilhos anteriores. Portanto, o funcionário público municipal está à deriva. E
ainda mais: queremos denunciar que o Sr. Prefeito recolhe pagamentos que
deveriam ser realizados pelos funcionários públicos e não os repassa às
entidades que deveriam receber. Perguntamos: onde está esse dinheiro dos
funcionários públicos? Se é dessa forma que se mantém em dia o pagamento do
funcionalismo, é uma forma falsa. O problema deveria vir a público e ser
esclarecido. Além do mais, a forma como nós estamos sendo tratados... Na
Prefeitura não é mais possível continuar, porque temos os maus-tratos dados
pelos funcionários. É porque também são maltratados, principalmente na SMEC e
pelo Sr. Prefeito Municipal. É tudo questão de tratamento. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar,
declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão e convido os Srs. Vereadores
para a Sessão Solene de hoje, às 16h.
Estão
levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 15h25min.)
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